segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Compor

De tantos escritos compostos me esqueci do metalinguístico texto.

Por que ainda sequer mencionei como é experimentar compor?
Por que ainda não revelei aquilo que muitos sabem como é?

Porque eu sou vaidosa. Ah, e como sou...

Não quero contar a vocês que meus olhos brilham ao terminar o último verso.
Não quero contar que meu peito se enche, fazendo sair um suspiro aliviado.
Não quero contar que às vezes eu me emociono com o que faço.

É vaidade demais...

E nessa brincadeira de me gabar sem que ninguém saiba, eu já fiz tantas e tantas músicas. A maioria delas pra vocês.

Desconhecidos.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

"..."

Eu não tenho tempo pra lhe escrever. Nem pra ninguém.

Não tenho tempo de cobrar sua presença, sua promessa, sua filha.
Não tenho tempo de pensar em você da forma que merece.
Não tenho tempo de dizer coisas bonitas, de lhe mandar emails enormes dizendo amores e saudades.
Não tenho tempo pra você, que parece não querer que eu tenha.

Então, combinemos o seguinte.

Quando você tiver o tempo que eu quero e que você quer, me avise.
Acene com um suspiro.

Seja você quem for.


[INFORMO AOS MEUS LEITORES QUE ME ENCONTRO SEM TEMPO, DE FATO. QUANDO CONSEGUIR ESCREVER ALGO QUE PRESTE, EU RETORNO. NÃO DEVE DEMORAR, PROMETO]

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Reaprender

Reaprendendo com os erros.

Assim que me sinto atualmente. Um completo "breakdown" faz qualquer tolo insensível cair. Caí. E de tola que sou e fui, aprendi. Estou aprendendo. Reaprendendo. Com o samba ou sem ele.

Reaprendendo a aprender.
Rraprendendo a sorrir por motivos fúteis.
Reaprendendo a não dar tanta importância.
Reaprendendo a despreocupar.
Reaprendendo a dançar conforme a música.
Reaprendendo a respeitar.
Reaprendendo a ouvir. Ouvir de fato. Escutar. Mesmo.
Reaprendendo a falar. Com cuidado. O que sai não volta.
Reaprendendo a ficar calada.
Reaprendendo a sorrir mais. Muito mais do que já fiz.

Reaprendendo a tudo.
Vendo as coisas de um jeito mais leve. Mais feliz mesmo.

Reaprendendo a viver.

terça-feira, 21 de julho de 2009

Belicoso

Feliz aqueles que sonham e que trovam. Que lutam e que amam.

Sem me estender, posto o que há muito foi escrito e que há pouco tempo me perguntaram de onde surgiu. Por essa música, uma das minhas primeiras de expressividade, sempre tive um carinho especial. E pra todos aqueles que me perguntaram, me misturo com Dom Quixote.


Triste Fortuna - Flávia Ellen 04/01/07

Olha ao longe quem vem vindo, o guerreiro trovador
Junto ao seu fiel amigo, escudeiro, grande navegador
Traz junto de si o retrato de sua querida donzela
Que tristonho deixou pra trás, esperando na janela.

Deixou pra trás também o seu legado, um menino levado
E um poema pra sua senhora, de homem enamorado
“Eu volto, meu bem, acredito não ser como o tempo, o vento
Que vai, destrói, não volta e não marca seu momento”.

Mal sabia o homem que a guerra estava ao lado
A glória, a honra, a fama, o medo e o destino ameaçado.

Homem virtuoso, sabe que tem um dever a cumprir
E junto a seu aliado, acredita que pode conseguir
Sem medo de cair, tem a força e a vontade pra levantar
Coragem pra seguir, erguer a cabeça e recomeçar.

Mas no meio dum fuá de guerreiros, esqueceu seu maior valor
Que antes de guerreiro era trovador e prefere o amor
Não viu nada, só a lança que em seu peito se alojou
Lembrou do tempo, do vento, do poema, e os olhos cerrou

Lembrou de sua linda dona e de todo seu amor
Da sua mãe que dizia: “ninguém contraria a vontade do Senhor”.
Como todo poeta, trovador, fui fugidio e fugaz
Marcou, deixou, se fez e agora se desfaz.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Em copo d'agua

Um ato de amar que se expressa de um jeito que lhe é peculiar. Ninguém melhor do que eu para entender seu desejo mudo. Ninguém melhor do que eu para ver no seu o meu andar. Meus passos juntos aos seus.

Um sorriso sempre à sua porta e um peito constantemente arfante. Um mundo inteiro aberto a você sem o menor medo, com a maior entrega. Entrou, sem pedir licença, sem se intimidar com esse novo lugar, sem se resumir. Se deixando entender nessa felicidade inexplicável e urgente.

Uma intensidade sem qualquer vestígio se fazia serenamente. Meio sem sentido, é verdade, mas com uma sinceridade que há muito tempo desconhecia. Sem qualquer invenção, os dias diminuíam de tamanho, e as horas passavam como passa o vento. E nessa mesma incrível velocidade, de forma sempre discreta, os gestos adquirem maior peso. Um afeto de muita paixão.

Não sendo completamente oculto, tudo isso se fazia num mistério. As ambições iguais e escondidas, as situações inéditas e surreais. Sem distinção de qual prevaleceria, compartilhamos sempre os mesmos anseios. Anseios bastante envolventes, por sinal.

Sei que de tudo isso que vivemos dia após dia, ficará guardada uma forma de amor tão intensa que nunca caberia em palavras.

Nem em qualquer lugar.
Passei a ver de outra forma a tempestade em copo d'agua.
Porque ainda que não mexa em nada, mexo com você.

domingo, 21 de junho de 2009

Já vai

Aqui,não se apresse em ler.Eu estou muito ocupada com outras coisas.Não que eu não tenha escrito,mas digitalizá-lo dá muto trabalho.

Aguardem mais um pouquinho que eu entro de férias.

Tome um banho demorado enquanto isso,sente a frente da inútil TV que eu já volto para conversar.

=)

domingo, 31 de maio de 2009

Começo do meio

Já era tarde. O relógio marcava pouco mais de duas horas. O dia era quente, e a noite seria fria - o outono nunca falha. Sabia que sua presença tiraria todo o meu cansaço e eventual monotonia que pudesse estar sentindo. Sabia que esquecer tudo era questão de tempo, e que a calma me viria paulatinamente. Sabia de tudo isso, menos do que estava por vir.

Esperei um tempo pela predominância de um diálogo que não veio. Esperei pelas suas palvras e encontrei seu silêncio. Já não podia esperar mais. E me conformei.

Passei a sentir conforto no seu silêncio. Passe a admirar cada linha do seu rosto, cada traço dos seus lábios e o diferente brilho dos olhos seus. Te reaprava em minúcias durante longos segundos. Te tocava pra sentir o que meus olhos abstraíam, e como tudo seu, era suave. Perdi o fôlego.

Até o momento, tudo nos conformes postos por você. Mas sem que eu percebesse, meus olhos alternavam entre os seus e sua boca, incessantemente. E por permanecerem assim sem que os tivesse sob controle, me vinha milhares de reações igualmente incontroláveis. Até que todas elas se uniram pra falar.

Num suspiro; em várias lágrimas.
Do meu amor por você.

sexta-feira, 22 de maio de 2009

S.

Estava no fundo do armário,dentro de uma daquelas caixinhas que guardam de tudo um pouco.

Tinha formato de bilhete,o tamanho de um aviso,e a intensidade de uma carta.Pena que não tinha quase nada escrito,e pena maior que era escrito.Pois aquela palavra soando no ouvido tem um poder egocêntrico inimaginável.E talvez,pensando bem,melhor assim...
A vaidade nem sempre vem para o bem.

E só a título de curiosidade sobre meu pensamento,uma palavra de três letras não deveria ter tanto peso,porém ao longo dos anos aprendi que é exatamente a falta de peso delas que dá a maior importância.Haja visto o "não", "sim", "mas"...

Enfim.
É tiro e queda a palavra.
É ler e morrer.

Seu.Ou simplesmente, S.

sábado, 9 de maio de 2009

Afetuosamente

Querida,

nem em meus pensamentos oníricos conseguiria descrever o que faz comigo. Nem que inventasse palavras. O que e faz sentir não se descreve. Me faz o inacreditável. Ou apenas faz. Da melhor forma.

Poderia tentar explicar meu tamanho deslumbramento por ti através da minha paixão. Mas cometeria o pior dos erros. O que sinto é por inteiro racional. Minha paixão faz total sentido e tem toda a razão. Você me fez alguém completamente apaixonado, ainda que isso não se explique nem explique nada. Essa veemência, como você pode ver, tem e não tem os pés no chão, mas ainda que nada faça sentido, sei que entende o meu. E isso me basta.

Após parágrafo tão complicado - meus sentimentos racionais e sensíveis vieram à tona ao mesmo tempo incontrolavelmente - só me resta dizer claramente a única coisa que importa: sim,eu te amo, e só você me faz sentir o indescritível.

Sempre seu,

A.P.

domingo, 26 de abril de 2009

Este seu olhar

"Este seu olhar quando encontra o meu fala de umas coisas que eu não posso acreditar.."

Tocava na vitrola as sempre doces palavras de Tom e Vinícius. Ela, sentada em frente sussurrando música, com a cabeça repousada em lugar nada confortável, pensava no que se vive, no que se faz e no que se ama.

Pensava no que viver em uma época favorável ao estar, pensava no que fazer enquanto se via de mãos atadas perante o mundo. Só sabia a quem amar. Desde sempre.

Quer ser feliz, sem dúvida. Sempre adorou as coisas de formas simples, de modo simples. Nada que pudesse parecer complicado o seria. Simplicidade na forma de ver tudo o que se passa. Descomplicada.

Quer mudar o mundo. Complexo de super-herói que carrega desde a infância. Sabe que pode fazê-lo na sua devida proporção. É feliz e quer os outros felizes. Altruísta, talvez.

Apaixonada. Fica suspirando a maior parte do tempo, ainda que sejam internos os suspiros. Escreve silenciosamente como nunca escreveu antes. Tomou para si como melhores amigos o papel, o dicionário e o lirismo. Se apaixona cada vez mais tendo essa paixão revestida em música. Compõe para alguém.

Vivia, portanto, de modo a ser feliz. Menos mal.
Fazia aquilo que estava a seu alcance. Mais do que justo.
Amava com paixão aqueles olhos pequenos e morenos.

Amava aquele olhar descrito por eles.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Roda de Samba

A.b.surdo.

A frequência com que elas acontecem não me impedem de me perguntar com que roupa eu vou. Acontece que a roupa não me é interessante, e a única coisa que importa é que o Sol nascerá. Então meu caro amigo,corra e olha o céu e veja com o peito vazio o x do problema.Onde está a honestidade no pranto de poeta?

O orvalho vem caindo para atender a pedido, mas pela décima e primeira vez eu prefiro a alvorada. Fita os meus olhos e perceba que o inverno do meu tempo não passa de conversas de botequim e cordas de aço.Nâo importa se sou um pierrot ou um gago apaixonado,uma julieta,uma pastorinha,uma cabrocha do Zé,uma dama do cabaré,um louco ou um rapaz folgado. Quem não quer sou eu.Não quero ser um João Ninguém.Pra que mentir?

Acontece que as rosas não falam e não responderão nada.Então conforme-se e atenda o meu último desejo. Preciso me encontrar,preciso encontrar em qualquer sala de recepção o feitiço da vila.O meu feitiço.Aquele que chegue e não fale "Espere mais um ano", "Adeus" ou "Boa Viagem", mas alguém que fale "Minha" e que ao final de tudo me induza a dizer sem erro "Tive sim".

sábado, 28 de março de 2009

Infinito Particular

Por um momento inteiro deixei seu corpo encontrar meu silêncio. Talvez fosse mera inquietude, ou mera insensatez. O fato que não sabíamos é que eles não se perderiam. Jamais. Do meu silêncio fez-se o riso. Do riso, o risco do nosso sobre-amor.

Aos poucos ouvia sua voz clamando por mim, os sussurros caminhando na minha direção. Meu abandono abandonado e seu amor, sem pedir qualquer licença, veio ocupando e invadindo todo o espaço.

Perdido o juízo, caladas as palavras, a descrição vinha apenas para mostrar que nada estaria por um triz, durante o tempo que dura sempre.

Um afeto descarado. Assim sou eu por inteira, desde a lembrança à presença, desde seu sorriso infantil estampado à sua intensidade. Assim sonhei você comigo, assim você se entregou a mim.

Um olhar sempre feito para seus olhos. Inúmeros espelhos que refletem o carinho seu e o cuidado meu: dois zelosos amores.

As mãos com o calor que tanto gosta tem o sentido exato para sua delicadeza e para sua posse. Só você as tem como preferir para fazer o que quiser delas. Todo movimento só acontece pelos seus.

Os afagos que se completam, os suspiros declarados, os arrepios que se provocam, a mistura de perfumes e o encontro de sensações. Só faz-se saber que eu sou só de você. E você, só de mim.

Meu, tudo.


"É só teu o meu livro; guarda-o bem;
Nele floresce o nosso casto amor
Nascido nesse dia em que o destino
Uniu o teu olhar à minha dor"

Florbela Espanca

domingo, 8 de março de 2009

Corra e olhe o céu

A Lua é linda lá fora...

Ser é um estado de espírito.Assim disse uma sábia senhorita com seus 60 anos.
Não entendo muito de astronautas e foguetes.
Mas aquela coisa redonda no céu sempre me pareceu atraente em excesso.

A Lua é linda lá fora.Não está.

sábado, 28 de fevereiro de 2009

Novo amor

Abraçar o inédito. Talvez algo que poucos tenham coragem de fazer. Sou um entre os poucos.
Já não seguia uma rotina, encontrei um,desencontrei-o em seguida, apaixonei por outro e o perdi porque assim que manda o manual de tristeza. Existe o item que chama "Desencontrar".

Fora da normalidade, dos desencontros se deu o maior encontro.Uma ilusão que aparecia e que logo se fez desilusão. Desiludiu-me ao mostrar que não era passageiro. Já esperava ter que seguir o manual, e logo percebi que não era mais necessário. Nunca mais.

Eu sei, não foi culpa minha...
Foi sua culpa!
Você a quem me dediquei,a quem me esforcei.

Ah Amor,não seja tão ingrato por lhe entregar minha vida. Faça dela o que quiser. Você já me deu o suficiente.

"A luz apaga porque já raiou o dia
E a fantasia vai voltar pro barracão
Outra ilusão desaparece quarta-feira
Queira ou não queira terminou o carnaval
Mas não faz mal, não é o fim da batucada
E a madrugada vem trazer meu novo amor
Bate o tambor, chora a cuíca e o pandeiro
Come o couro no terreiro porque o choro começou
A gente ri
A gente chora
E joga fora o que passou
A gente ri
A gente chora
E comemora o novo amor"

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Todo Carnaval tem seu fim

À Flor da Pele

Existem dois modos possíveis para mim. Mas hoje não me refiro ao fato de que, em certos dias, um leve suspiro seu me deixaria completamente arrepiada. Estou sensível ao mundo.

Sempre soube que ter como companhia a solidão me traria características singulares. Meus olhos veem além do costumeiro, tornam macroscópicas as coisas e os sentidos. Detalhistas. "Demasiado humanos"

Procuro sentido para os soluçoes incontroláveis, para uma culpa vã, para a ausência de abrigo, para meu estado de inquietude, para a castidade dos meus sentimentos. Me sinto a mais inocente criança, onde a lágrima alheia desperta as minhas, onde a tristeza contagia sem nenhum esforço, onde tudo é reação em cadeia. Sinto medo de não saber razões. Sinto medo por sentir que estou perdendo um pouco da minha racionalidade, mais frequentemente do que há algum tempo atrás. (Obviamente, como nesses parênteses, tenho meus pés ancorados ao chão, ainda me sobra muito do lado racional)

Estaria mentindo se dissesse aqui o porquê de estar tão sensível. Seria fútil ao inventar qualquer coisa ou delegar a sentimentos antigos a culpa pelo fato. Mas acho que seria sutil se dissesse que tem alguma coisa. Só não descobri ainda. Creio que espero pelos "Dias Lindos" que Drummond me prometeu.

Ou apenas acho que estou com dó do mundo.

"Toda trilha é andada com a fé de quem crê no ditado
De que o dia insiste em nascer
Mas o dia insiste em nascer
Pra ver deitar o novo"

Los Hermanos

O carnaval ao avesso [7]

Soneto de fidelidade

De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento


Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento


E assim quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama


Eu possa lhe dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure


Vinícius de Moraes

Ah, o amor...

tão bobo, tão triste, tão debochado, tão exagerado, tão vulnerável, tão veemente, tão impetuoso, tão atrevido, tão impulsivo, tão entregue.

Ah, o amor...

tão inteligente, tão alegre, tão criativo, tão consequente, tão seguro, tão intenso, tão calmo, tão sereno, tão cortês, tão entregue.

Essa entregue moeda de duas fazes pertence a você,apenas. Fica a seu critério escolher qual contradição usar.

(yn)

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

O carnaval ao avesso [6]

Não te quero senão porque te quero,e de querer-te a não te querer chego,e de esperar-te quando não te espero,passa o meu coração do frio ao fogo.

Quero-te só porque a ti te quero,odeio-te sem fim e odiando te rogo,e a medida do meu amor viajante,é não te ver e amar-te,como um cego.

Talvez consumirá a luz de Janeiro,seu raio cruel meu coração inteiro,roubando-me a chave do sossego,nesta história só eu me morro,e morrerei de amor porque te quero,porque te quero amor,a sangue e fogo.

Pablo Neruda

A você eu dedico o meu amor infantil.

Sem saber o que é rotina, a cada despedida vem o aperto no peito pensando que é um adeus. Tenho medo de lhe perder.

Sem noção de posse, quero ficar sempre perto, sorrindo, brincando. E como se fosse sua, um brinquedo ou companhia, lhe deixo me absorver. Absorva o que é seu. Assim como eu o farei.

Sem noção do que seja o extremo da felicidade, me vem o sentimento de não-merecimento. Ainda depois de tanto tempo, acho que me deram um amor além da conta.

Finalmente, entre tantos momentos lúdicos, me vem a vontade e o ato mais comum de toda criança. Guardarei você no bolso.

(yn)

O carnaval ao avesso [5]

SAUDADE

Na solidão na penumbra do amanhecer.

Via você na noite, nas estrelas, nos planetas,nos mares, no brilho do sol e no anoitecer.

Via você no ontem , no hoje, no amanhã...Mas não via você no momento.

Que saudade...


Mário Quintana


O meu silêncio

(...)

Restou apenas o soar das notas do violão. Com os olhos cerrados e as mãos se completando, o coração fazia sua parte: disparava. Tudo porque os versos que fiz não são meus.

Continuei sem as ditas palavras e aos poucos percebi o quão limitadoras elas podem ser. Aquilo que quero dizer nem sempre é o que digo. E sou além de meras palavras. Quem dera elas tivessem seus próprios sentidos.

Quem dera eu falasse "Eu te amo" e isso carregasse o real valor dele. Ando preferindo o silêncio, pois não, e meus soluços. Até que seja inventado um "Eu te (qualquer coisa)". Ou até que eu invente.

(yn)

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

O carnaval ao avesso [4]

SAUDADES

Saudades! Sim.. talvez.. e por que não?
Se o sonho foi tão alto e forte
Que pensara vê-lo até à morte
Deslumbrar-me de luz o coração!

Esquecer! Para quê?... Ah, como é vão!
Que tudo isso, Amor, nos não importe.
Se ele deixou beleza que conforte
Deve-nos ser sagrado como o pão.

Quantas vezes, Amor, já te esqueci,
Para mais doidamente me lembrar
Mais decididamente me lembrar de ti!


E quem dera que fosse sempre assim:
Quanto menos quisesse recordar
Mais saudade andasse presa a mim!

Florbela Espanca


Quando se procura um sentido que não é encontrado, passamos a ver a indiferença com outros olhos. Ela se torna nossa companheira de todos os segundos que passam, criamos certa afeição pela calma que ela nos proporciona, até o momento em que nos faz ver que a diferença de um dia se resume a uma única pessoa. A partir daí, ela não existe mais. A partir daí, você faz toda a diferença.

(yn)

domingo, 22 de fevereiro de 2009

O carnaval ao avesso [3]

Desafinado (yn)

Se existe saudade ao seu lado,quanto mais sem você...

Quisera eu ter as palavras mais simples para esse momento; porém, sua ausência me trouxe o belo novamente. Não precisei sequer do silêncio da noite para pensar em ter você. Na verdade, nunca precisei, e menos agora. Cada vez menos. Você já se ocupou no meu espaço.

Por entre os realejos desarranjados e o verde inexistente nos seus olhos, caminho procurando um sentido que não o seu. O vivo em cada pétala e a vida em cada rua, o amor em cada segundo e o intenso em cada gesto. Nada disso permanece sem valor. Sõ não possui o valor que você devota.

Tudo apenas mudou de perspectiva, de ponto de vista. Um novo sentido, ainda que resista às mudanças e não queira se adaptar, foi dado às coisas para que elas não o percam. De fato, não quero sentido sem você. Não quero ficar fora do meu tom natural.

Não gosto de desafinos.



"E falta sempre uma coisa, um copo, uma brisa, uma frase,e a vida dói quanto mais se goza e quanto mais se inventa"

Fernando Pessoa

sábado, 21 de fevereiro de 2009

O carnaval ao avesso [2]

Ausência


Por muito tempo achei que a ausência é falta.E lastimava, ignorante, a falta.Hoje não a lastimo.Não há falta na ausência.A ausência é um estar em mim.E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,que rio e danço e invento exclamações alegres,porque a ausência assimilada,ninguém a rouba mais de mim.

Carlos Drummond de Andrade
(yn)

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

O carnaval ao avesso [1]

Querer as coisas ao avesso. Passei a me acostumar com esse meu estranho gosto.

Vi muitos amigos em direção aos mais diversos carnavais, desde o frevo às escolas de samba, desde as famosas cidades históricas às outras muitas cidades do interior. Achava graça, nada disso me atraía. Talvez porque estou num momento de sentir saudade.

Assim como no ano passado, a vazia Belo Horizonte me fará companhia. Sentirei novamente a brisa no rosto, o silêncio nas ruas, a vista de um belo horizonte talvez. E tenho certeza que algumas de minhas melhores companhias estarão aqui, escrevendo comigo cada dia desse longo feriado que pára todo o Brasil.

A começar por ela. Clarice Lispector.

"Saudade é um pouco como fome. Só passa quando se come a presença. Mas às vezes a saudade é tão profunda que a presença é pouco: quer-se absorver a outra pessoa toda. Essa vontade de um ser o outro para uma unificação inteira é um dos sentimentos mais urgentes que se tem na vida."

(yn)

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Carnaval

Cá estou eu amando-te!

Logo a ti, tão volúvel e sedutora. Ainda que as borboletas não te acompanhem, ainda que não queiras nada com meu nome que poderia ser seu.

Sei que não me vês em teu espelho e que minha ingenuidade não te atrai. Sei que minhas cartas de amor nunca chegarão até ti, amada. Tão triste ver-te partir nos braços de um trovador sem saber se um dia voltarás para os meus, que sempre te esperarão em silêncio.

Meu amor é apenas um sutil sonho. Não é lascivo, não quer te transformar em incerteza, não quer seu olhar abstrato. Quero seus olhos presos aos meus como verdadeiros amantes. Não mais quero esse meu rosto pálido que só sabe o que é tristeza e lágrima.

Não sei o que tanto esperas, Colombina. Mas peço que não demores a trazer meu riso.

"Estou no lugar de sempre, entre as flores e o trigal.

Sei que queres que passe o Carnaval.

Saibas que pode a rosa em minha mão morrer,

que outra logo te espera, não demora a nascer."

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Com licença poética.

A Paixão Segundo G.H. - Clarice Lispector

“Lembrei-me de ti,quando beijara teu rosto de homem,devagar,devagar beijara,e quando chegara o momento de beijar teus olhos - lembrei-me então de que eu havia sentido o sal na minha boca, e que o sal de lágrimas nos teus olhos era o meu amor por ti.Mas, o que mais havia me ligado em susto de amor, fora, no fundo do fundo do sal,tua substância insossa e inocente e infantil: ao meu beijo tua vida mais profundamente insípida me era dada, e beijar teu rosto era insosso e ocupado trabalho paciente de amor,era mulher tecendo um homem,assim como me havias tecido,neutro artesanato de vida.”

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Flavors of Entanglement

Era uma cena inédita.

Uma timidez real e imperceptível aos olhos de muitos aliada a uma extravagância manifestada.Era necessário a ela todo o extravaso que fosse além de suas palavras.Alvo de todos os olhares,o seu olhar parecia não encontrar ninguém.Olhos brilhantes e perdidos.Uma cena aparentemente triste.


Mas havia um sorriso naquele rosto.Aberto.Sincero.Igual a ele nunca senti."Que lindo sorriso ela tem", pensei comigo,com certeza muitos pensaram a mesma coisa.Sorri de volta.Não importava se ela o viu,mas com o passar do tempo,ela parecia mais confortável.Tenho certeza de que os milhares que ali estavam,sorriram ao vê-la sorrir.Ironicamente,todos felizes com a tristeza,com a verdade que era cantada.

Ao final,todos agradeciam esse ousado gesto,ela não guardou sua dor só pra si.E em resposta,nos fez sentir que não era só mais uma noite.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Condão

Nunca pretendi sê-lo. Talvez um fardo pesado, talvez uma dádiva. Qualquer que fosse, é um "ser" e tanto.

Não queria ser algo que você possuísse nem ser insensato como você nunca disse. Não queria votar para ser tal. Sempre me achei fraco para disfarçar cores e não entendo nada de monogramas. Não sei querer pelo avesso e meus textos são concretos demais para a abstração que você deseja.

Mas assim como fez com suas posses, me fez seu. Seu poder, aquele sobre o qual você aprendeu a ter domínio, aquele que enobrece suas inúmeras virtudes e aquele que você sabe exatamente quando usar.

Seu dom, que você descobriu com o passar do tempo, que lhe intriga por não desvendar como se deram, que lhe conquista e faz conquistar. O que você quiser.

Eu, seu condão.
Eu, um doce mês .

Artur Peixoto

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Delicado Abril

Vem pra perto e traz
Seu calor,seu aconchego
Vem disfarçar minha cor.
Tem seu monograma na parede
Que deixei pra quando voltar.
Traga sua metade que ela se entende
Com a minha vontade.

Vai provocar minha insensatez
E lidar com a avidez
Que seus olhos me causaram
Vai me querer pelo avesso
Ao se lembrar do texto
Que meus dedos lhe deixaram
Olha a minha mão
Te toca,nota e vota pra eu ser o seu condão

Sei que são só sentimentais
O seu amor,o meu ardor,o nosso andor
Vê que vão e não voltam sem paz
A flor,o ardil,o azul anil,você e eu.Abril

Vejo então e a cada vez mais
No seu olhar,um brilho,um lar,num cílio o mar
Coração não se cansa jamais
De ser pueril,de ser servil á porta que se abriu

Flávia Ellen 15/04/08

*Me deu muita saudade nessa horas da noite.

domingo, 18 de janeiro de 2009

Relato Intimista

Por que temes à minha frente? Não consegues dizer o que sou ou não é ninguém para dizê-lo? Não sabes do meu limite, da minha competência, da minha ousadia e do meu caráter? Esperava que soubesses depois de tanto tempo.

Julgas por quê? Se não passo de meras especulações, se não te passo certeza de nada? Se mesmo eu não tenho certeza do que sou.

Temas, sim, porque não tens poderes, não consegues ler o que vai além da minha forma física, não me decifras por olhares. Não sou o que sentes, nem o que pensas.

Julgues, sim. Julgues toda a incerteza que achas que é certa. Que achas que é tua.

Erres ao final. E voltes para me contar.


*A maior parte desse texto pertence à Luane Bernardino.

domingo, 4 de janeiro de 2009

Indecifrável

"- Tão bom lhe ver de novo, Artur. Cortou o cabelo só para me ver? Hehe...ficou lindo, como sempre.
- Hehe, sim cortei-o. Realmente, Clara. Estou muito feliz em vê-la. Com novos objetivos, mais madura, mais mulher. Pensando em filhos, casamento. Muito feliz em ver que finalmente você achou alguém que realmente valha a pena.
- Você vale, Artur, sempre valeu. Mais do que todos, talvez. Mas por decisão nossa...
- Não falemos do passado. Já conversamos o suficiente sobre isso, não me julgue grosseiro por falar assim.
- Tudo bem, você tem razão. A principal razão de ter vindo ao seu encontro é uma pedido que tenho que lhe fazer.
- Pois não, vá em frente.
- Quero que você me deixe seguir em frente. Quero lembrar de você com um sorriso no canto da boca, com uma sensação gostosa de saudade e de felicidade. Quero pensar no seu nome e poder pensar de novo, sem pesar, sem tristeza, e com amor, todos os dias. Quero ler suas poesias e ver isso como uma honra, ainda que saiba que muitas delas se destinam a mim. Quero muitas delas. Não sei lhe esquecer. Preciso pelo menos saber pensar em você.
- Olha, Clara. Desculpe se interrompi, mas você sempre esteve livre pra seguir em frente. Também para mim foi difícil passar por cima de tudo, por cima de nós. Mas talvez eu não saiba o que fazer em relação ao seu pedido. Se eu ocupo um lugar em você, não sei como tirá-lo. Assim como você ocupa em mim. Brilham meus olhos, dispara o meu coração quando seu nome me vem. E lido bem com isso. Você fará o mesmo, tenho certeza. Se precisava ouvir isso da minha boca, lhe digo com a maior sinceridade.
- Sim, é isso que precisava. Estou com o horário um pouco apertado, acho melhor chamar o Bruno para irmos. E finalmente, só queria lhe dizer que você é único. Você é o único homem da minha vida, tenha certeza. O único a quem amei assim, o primeiro e único.
- Pensava que você tinha me dito que não era o primeiro.
- Sim, você é. Quando disse que já havia vivido tudo isso, foi para lhe deixar mais confortável nessa incompreensão toda. E também para me convencer e me fazer aceitar essa situação de paixão.
- Nossa, é tudo muito mais complexo do que pensava.Hehe...
- É, só um pouquinho mais complexo. Seu sorriso continua lindo.
- ... (Silêncio) ... Tenho certeza que você é e sempre será a única mulher da minha vida. A mais linda, a mais irreverente, a melhor.
- Amo você, Artur. Nunca se esqueça disso, porque isso nunca mudará.
- Eu também te amo, Clara. Se cuide. Sempre aqui. "