quarta-feira, 9 de julho de 2008

Indiferente

  • Era um dia de inverno como outro qualquer.

  • Seus pés estavam gelados,suas mãos aquecidas.Seus lábios quentes tremiam na falta de palavra e de atitude.Ele estava só.Escornado num canto qualquer da casa,sua imagem depreciava-se no espelho à sua frente,refletindo muito mais que sua imagem.Ele era a reflexão da desilusão,do desgosto,da agonia da solidão.Havia simplesmente tudo a se fazer por ele.Porque eu não faria nada.

  • Estávamos juntos,finalmente,depois de longos anos sem nos ver.Queríamos e precisávamos nos ver.Nos ter.Imaginando uma descrição fiel aos fatos,digo que a discussão seria a última coisa que aconteceria dentre as indesejadas.Feito foto,ele não se movia.Me olhava firmemente com seus belos olhos azuis.Trazia consigo a roupa do corpo apenas.Respirou,moveu-se e aproximou-se.Pude sentir o calor de sempre.A centímetros da minha face,sua boca vermelha de sangue,completamente desenhada.Pude sentí-la ardendo quando ela tocou meu rosto após hesitar tocar a minha.Suspirou algumas palavras,susurrou outros suspiros.Aquele silêncio inteiramente compreensível sempre foi uma marca de nós dois.Um afeto solto no ar suspirava sussurrando versos,ás vezes palavras.Os olhares repudiados desejavam-se.Entre telefonemas e fotografias,as últimas eram preferidas.Poucos dizeres atrás do retrato só pra situar.Palavras nunca foram fortes.

  • Incrivelmente ele começou a falar.Explicava a ausência inesperada por tantos anos.Explicava a mudança para esse hábito um tanto quanto frenético.Explicava-se e só fazia isso.Algo não estava muito coerente.Não havia pedido por isso,nunca pedi explicações,e me vinha ele com tantas frases.Eu não me acostumei com frases pesadas e períodos grandes,sem sequer uma respiração,uma vírgula,um ponto final.Aliás,essa palavra - final - foi mencionada frequentemente.Havia sim algo oculto.

  • Ele não disse com palavras concretas,mas a disposição do seu corpo já não era pro meu.Ele queria algo volúvel,desinteressado talvez,abstrato.Não me encaixei em nenhum dos novos pré-requisitos.Talvez devesse virar as costas e simplesmente partir,como se ele não tivesse aparecido.Mas como se não bastasse a rejeição,ele aludiu a um nome familiar,e na mesma hora percebi todo o platonismo que o tomou.Ele mal sabia que ela tinha um segredo,que ela tinha um segredo que só eu guardo.Que só eu guardarei sempre.Que era meu,que era meu.Ele deixava uma exclamação por uma dúvida,ao que tudo indicava.Era sem dúvida o ponto final.

  • Parti com o pôr-do-sol...andei um pouco pelas ruas vazias de um bairro residencial,em pleno sábado a noite.Era quase meia-noite quando cheguei em casa.E subitamente caiu uma única lágrima do meu rosto.E que certamente sabia que não era por ele,e sim por ela.Era uma lágrima de consolo.Adormeci até um silvo me despertar.Já que não houveram fotografias,o telefonema era de se esperar.Ele disse pouco,como de costume antigo,e se arrependera.O platonismo tinha sido derrubado após uma longa conversa com ela.Ela era racional demais para o romantismo dele...Ela era romântica demais pro meu gosto.Escutei-o com paciência.Era tarde demais para ser cedo novamente.

  • Mas era um dia de inverno como outro qualquer.

3 comentários:

Unknown disse...

QDO VAI SER O SHOW NO PALACIO DAS ARTES???

JA AVISOU A GALERA??

auhauhaehuhae


LINDAAAAAAAAAAAA

Anônimo disse...

O que é meu,é seu,sem dúvida...

Leleka disse...

"Ele mal sabia que ela tinha um segredo,que ela tinha um segredo que só eu guardo.Que só eu guardarei sempre.Que era meu,que era meu...
E subitamente caiu uma única lágrima do meu rosto.E que certamente sabia que não era por ele,e sim por ela.Era uma lágrima de consolo."
Perfeita como sempre, brilhante como poucas! Te admiro por ter tanta maturidade e um maravilhoso lirismo, ao escrever.
Um conselho: publique um livro, e me chame para a 'noite de autógrafos'.