sábado, 28 de fevereiro de 2009

Novo amor

Abraçar o inédito. Talvez algo que poucos tenham coragem de fazer. Sou um entre os poucos.
Já não seguia uma rotina, encontrei um,desencontrei-o em seguida, apaixonei por outro e o perdi porque assim que manda o manual de tristeza. Existe o item que chama "Desencontrar".

Fora da normalidade, dos desencontros se deu o maior encontro.Uma ilusão que aparecia e que logo se fez desilusão. Desiludiu-me ao mostrar que não era passageiro. Já esperava ter que seguir o manual, e logo percebi que não era mais necessário. Nunca mais.

Eu sei, não foi culpa minha...
Foi sua culpa!
Você a quem me dediquei,a quem me esforcei.

Ah Amor,não seja tão ingrato por lhe entregar minha vida. Faça dela o que quiser. Você já me deu o suficiente.

"A luz apaga porque já raiou o dia
E a fantasia vai voltar pro barracão
Outra ilusão desaparece quarta-feira
Queira ou não queira terminou o carnaval
Mas não faz mal, não é o fim da batucada
E a madrugada vem trazer meu novo amor
Bate o tambor, chora a cuíca e o pandeiro
Come o couro no terreiro porque o choro começou
A gente ri
A gente chora
E joga fora o que passou
A gente ri
A gente chora
E comemora o novo amor"

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Todo Carnaval tem seu fim

À Flor da Pele

Existem dois modos possíveis para mim. Mas hoje não me refiro ao fato de que, em certos dias, um leve suspiro seu me deixaria completamente arrepiada. Estou sensível ao mundo.

Sempre soube que ter como companhia a solidão me traria características singulares. Meus olhos veem além do costumeiro, tornam macroscópicas as coisas e os sentidos. Detalhistas. "Demasiado humanos"

Procuro sentido para os soluçoes incontroláveis, para uma culpa vã, para a ausência de abrigo, para meu estado de inquietude, para a castidade dos meus sentimentos. Me sinto a mais inocente criança, onde a lágrima alheia desperta as minhas, onde a tristeza contagia sem nenhum esforço, onde tudo é reação em cadeia. Sinto medo de não saber razões. Sinto medo por sentir que estou perdendo um pouco da minha racionalidade, mais frequentemente do que há algum tempo atrás. (Obviamente, como nesses parênteses, tenho meus pés ancorados ao chão, ainda me sobra muito do lado racional)

Estaria mentindo se dissesse aqui o porquê de estar tão sensível. Seria fútil ao inventar qualquer coisa ou delegar a sentimentos antigos a culpa pelo fato. Mas acho que seria sutil se dissesse que tem alguma coisa. Só não descobri ainda. Creio que espero pelos "Dias Lindos" que Drummond me prometeu.

Ou apenas acho que estou com dó do mundo.

"Toda trilha é andada com a fé de quem crê no ditado
De que o dia insiste em nascer
Mas o dia insiste em nascer
Pra ver deitar o novo"

Los Hermanos

O carnaval ao avesso [7]

Soneto de fidelidade

De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento


Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento


E assim quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama


Eu possa lhe dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure


Vinícius de Moraes

Ah, o amor...

tão bobo, tão triste, tão debochado, tão exagerado, tão vulnerável, tão veemente, tão impetuoso, tão atrevido, tão impulsivo, tão entregue.

Ah, o amor...

tão inteligente, tão alegre, tão criativo, tão consequente, tão seguro, tão intenso, tão calmo, tão sereno, tão cortês, tão entregue.

Essa entregue moeda de duas fazes pertence a você,apenas. Fica a seu critério escolher qual contradição usar.

(yn)

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

O carnaval ao avesso [6]

Não te quero senão porque te quero,e de querer-te a não te querer chego,e de esperar-te quando não te espero,passa o meu coração do frio ao fogo.

Quero-te só porque a ti te quero,odeio-te sem fim e odiando te rogo,e a medida do meu amor viajante,é não te ver e amar-te,como um cego.

Talvez consumirá a luz de Janeiro,seu raio cruel meu coração inteiro,roubando-me a chave do sossego,nesta história só eu me morro,e morrerei de amor porque te quero,porque te quero amor,a sangue e fogo.

Pablo Neruda

A você eu dedico o meu amor infantil.

Sem saber o que é rotina, a cada despedida vem o aperto no peito pensando que é um adeus. Tenho medo de lhe perder.

Sem noção de posse, quero ficar sempre perto, sorrindo, brincando. E como se fosse sua, um brinquedo ou companhia, lhe deixo me absorver. Absorva o que é seu. Assim como eu o farei.

Sem noção do que seja o extremo da felicidade, me vem o sentimento de não-merecimento. Ainda depois de tanto tempo, acho que me deram um amor além da conta.

Finalmente, entre tantos momentos lúdicos, me vem a vontade e o ato mais comum de toda criança. Guardarei você no bolso.

(yn)

O carnaval ao avesso [5]

SAUDADE

Na solidão na penumbra do amanhecer.

Via você na noite, nas estrelas, nos planetas,nos mares, no brilho do sol e no anoitecer.

Via você no ontem , no hoje, no amanhã...Mas não via você no momento.

Que saudade...


Mário Quintana


O meu silêncio

(...)

Restou apenas o soar das notas do violão. Com os olhos cerrados e as mãos se completando, o coração fazia sua parte: disparava. Tudo porque os versos que fiz não são meus.

Continuei sem as ditas palavras e aos poucos percebi o quão limitadoras elas podem ser. Aquilo que quero dizer nem sempre é o que digo. E sou além de meras palavras. Quem dera elas tivessem seus próprios sentidos.

Quem dera eu falasse "Eu te amo" e isso carregasse o real valor dele. Ando preferindo o silêncio, pois não, e meus soluços. Até que seja inventado um "Eu te (qualquer coisa)". Ou até que eu invente.

(yn)

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

O carnaval ao avesso [4]

SAUDADES

Saudades! Sim.. talvez.. e por que não?
Se o sonho foi tão alto e forte
Que pensara vê-lo até à morte
Deslumbrar-me de luz o coração!

Esquecer! Para quê?... Ah, como é vão!
Que tudo isso, Amor, nos não importe.
Se ele deixou beleza que conforte
Deve-nos ser sagrado como o pão.

Quantas vezes, Amor, já te esqueci,
Para mais doidamente me lembrar
Mais decididamente me lembrar de ti!


E quem dera que fosse sempre assim:
Quanto menos quisesse recordar
Mais saudade andasse presa a mim!

Florbela Espanca


Quando se procura um sentido que não é encontrado, passamos a ver a indiferença com outros olhos. Ela se torna nossa companheira de todos os segundos que passam, criamos certa afeição pela calma que ela nos proporciona, até o momento em que nos faz ver que a diferença de um dia se resume a uma única pessoa. A partir daí, ela não existe mais. A partir daí, você faz toda a diferença.

(yn)

domingo, 22 de fevereiro de 2009

O carnaval ao avesso [3]

Desafinado (yn)

Se existe saudade ao seu lado,quanto mais sem você...

Quisera eu ter as palavras mais simples para esse momento; porém, sua ausência me trouxe o belo novamente. Não precisei sequer do silêncio da noite para pensar em ter você. Na verdade, nunca precisei, e menos agora. Cada vez menos. Você já se ocupou no meu espaço.

Por entre os realejos desarranjados e o verde inexistente nos seus olhos, caminho procurando um sentido que não o seu. O vivo em cada pétala e a vida em cada rua, o amor em cada segundo e o intenso em cada gesto. Nada disso permanece sem valor. Sõ não possui o valor que você devota.

Tudo apenas mudou de perspectiva, de ponto de vista. Um novo sentido, ainda que resista às mudanças e não queira se adaptar, foi dado às coisas para que elas não o percam. De fato, não quero sentido sem você. Não quero ficar fora do meu tom natural.

Não gosto de desafinos.



"E falta sempre uma coisa, um copo, uma brisa, uma frase,e a vida dói quanto mais se goza e quanto mais se inventa"

Fernando Pessoa

sábado, 21 de fevereiro de 2009

O carnaval ao avesso [2]

Ausência


Por muito tempo achei que a ausência é falta.E lastimava, ignorante, a falta.Hoje não a lastimo.Não há falta na ausência.A ausência é um estar em mim.E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,que rio e danço e invento exclamações alegres,porque a ausência assimilada,ninguém a rouba mais de mim.

Carlos Drummond de Andrade
(yn)

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

O carnaval ao avesso [1]

Querer as coisas ao avesso. Passei a me acostumar com esse meu estranho gosto.

Vi muitos amigos em direção aos mais diversos carnavais, desde o frevo às escolas de samba, desde as famosas cidades históricas às outras muitas cidades do interior. Achava graça, nada disso me atraía. Talvez porque estou num momento de sentir saudade.

Assim como no ano passado, a vazia Belo Horizonte me fará companhia. Sentirei novamente a brisa no rosto, o silêncio nas ruas, a vista de um belo horizonte talvez. E tenho certeza que algumas de minhas melhores companhias estarão aqui, escrevendo comigo cada dia desse longo feriado que pára todo o Brasil.

A começar por ela. Clarice Lispector.

"Saudade é um pouco como fome. Só passa quando se come a presença. Mas às vezes a saudade é tão profunda que a presença é pouco: quer-se absorver a outra pessoa toda. Essa vontade de um ser o outro para uma unificação inteira é um dos sentimentos mais urgentes que se tem na vida."

(yn)

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Carnaval

Cá estou eu amando-te!

Logo a ti, tão volúvel e sedutora. Ainda que as borboletas não te acompanhem, ainda que não queiras nada com meu nome que poderia ser seu.

Sei que não me vês em teu espelho e que minha ingenuidade não te atrai. Sei que minhas cartas de amor nunca chegarão até ti, amada. Tão triste ver-te partir nos braços de um trovador sem saber se um dia voltarás para os meus, que sempre te esperarão em silêncio.

Meu amor é apenas um sutil sonho. Não é lascivo, não quer te transformar em incerteza, não quer seu olhar abstrato. Quero seus olhos presos aos meus como verdadeiros amantes. Não mais quero esse meu rosto pálido que só sabe o que é tristeza e lágrima.

Não sei o que tanto esperas, Colombina. Mas peço que não demores a trazer meu riso.

"Estou no lugar de sempre, entre as flores e o trigal.

Sei que queres que passe o Carnaval.

Saibas que pode a rosa em minha mão morrer,

que outra logo te espera, não demora a nascer."

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Com licença poética.

A Paixão Segundo G.H. - Clarice Lispector

“Lembrei-me de ti,quando beijara teu rosto de homem,devagar,devagar beijara,e quando chegara o momento de beijar teus olhos - lembrei-me então de que eu havia sentido o sal na minha boca, e que o sal de lágrimas nos teus olhos era o meu amor por ti.Mas, o que mais havia me ligado em susto de amor, fora, no fundo do fundo do sal,tua substância insossa e inocente e infantil: ao meu beijo tua vida mais profundamente insípida me era dada, e beijar teu rosto era insosso e ocupado trabalho paciente de amor,era mulher tecendo um homem,assim como me havias tecido,neutro artesanato de vida.”

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Flavors of Entanglement

Era uma cena inédita.

Uma timidez real e imperceptível aos olhos de muitos aliada a uma extravagância manifestada.Era necessário a ela todo o extravaso que fosse além de suas palavras.Alvo de todos os olhares,o seu olhar parecia não encontrar ninguém.Olhos brilhantes e perdidos.Uma cena aparentemente triste.


Mas havia um sorriso naquele rosto.Aberto.Sincero.Igual a ele nunca senti."Que lindo sorriso ela tem", pensei comigo,com certeza muitos pensaram a mesma coisa.Sorri de volta.Não importava se ela o viu,mas com o passar do tempo,ela parecia mais confortável.Tenho certeza de que os milhares que ali estavam,sorriram ao vê-la sorrir.Ironicamente,todos felizes com a tristeza,com a verdade que era cantada.

Ao final,todos agradeciam esse ousado gesto,ela não guardou sua dor só pra si.E em resposta,nos fez sentir que não era só mais uma noite.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Condão

Nunca pretendi sê-lo. Talvez um fardo pesado, talvez uma dádiva. Qualquer que fosse, é um "ser" e tanto.

Não queria ser algo que você possuísse nem ser insensato como você nunca disse. Não queria votar para ser tal. Sempre me achei fraco para disfarçar cores e não entendo nada de monogramas. Não sei querer pelo avesso e meus textos são concretos demais para a abstração que você deseja.

Mas assim como fez com suas posses, me fez seu. Seu poder, aquele sobre o qual você aprendeu a ter domínio, aquele que enobrece suas inúmeras virtudes e aquele que você sabe exatamente quando usar.

Seu dom, que você descobriu com o passar do tempo, que lhe intriga por não desvendar como se deram, que lhe conquista e faz conquistar. O que você quiser.

Eu, seu condão.
Eu, um doce mês .

Artur Peixoto